
Nattan paga R$ 1 mil para homem beijar mulher com nanismo em show; associação cita capacitismo
Numa brincadeira em que oferecia dinheiro para quem topasse dar um beijo no palco, o cantor Nattan colocou uma mulher com nanismo no braço, jogou para cima e, em seguida, ofereceu ao público presente um PIX de R$ 1 mil para quem a beijasse. A cena aconteceu num show na Festa de Agosto, em São Lourenço da Mata, no Grande Recife (veja vídeo acima).
A ação foi filmada pela equipe de Nattan, e as imagens mostram que o cantor convidou outro homem para beijar a moça, mas ele não aceitou. O cantor pega a mulher no braço, a joga para cima e depois a coloca sobre um caixote.
Em seguida, pergunta a outro homem, nos bastidores, se ele quer beijar a mulher, e recebe uma negativa. Depois, chama da plateia um cinegrafista que trabalhava na transmissão do evento. "Ele pode até perder o emprego, mas os mil reais ele não perde", diz Nattan.
O cinegrafista sobe e, quando o artista começa a cantar a música, os dois se beijam, enquanto Nattan ri segurando a câmera. No final, o homem leva a mulher nos braços para trás do palco.
O cinegrafista envolvido, identificado como Marcos Ferreira, também publicou o vídeo no Instagram, e disse "quando o beijo vale mil e ainda vem com risada e bolso cheio… Aí sim é trabalho com gosto".
No Instagram do g1, Nattan publicou um comentário dizendo que também pagou R$ 1 mil para a mulher no vídeo, e que costuma chamar pessoas para se beijarem em seus shows.
Por meio de nota, a Associação Nanismo Brasil (Annabra) manifestou repúdio à atitude do cantor, disse que o artista expôs a mulher ao ridículo e informou que vai acionar o Ministério Público "para que os desdobramentos legais cabíveis sejam apurados".
Segundo a associação, atitudes como essa reforçam preconceito e a exposição da mulher com deficiência "em um ato de escárnio público fere não apenas a vítima direta, mas toda a nossa comunidade, que diariamente luta por respeito, acesso à saúde, educação e inclusão social".
"É importante deixar claro: o fato de uma pessoa com nanismo, em determinado momento, consentir ou participar de uma cena como essa não significa que toda a comunidade aceite ou ache engraçado. Normalizar este tipo de 'entretenimento' é abrir espaço para a perpetuação do preconceito e da violência simbólica, minando os avanços que temos conquistado com tanto esforço", diz a nota.
A associação também lembra que capacitismo é crime, e que "praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência" é passível de pena de um a três anos de reclusão e multa, e que, se a discriminação ocorrer por meio de meios de comunicação ou publicações a punição pode chegar a cinco anos de reclusão e multa.
"A Annabra informa que vai se mobilizar e fará a denúncia, junto ao Ministério Público, para que os desdobramentos legais cabíveis sejam apurados. Não ficaremos calados. Fazemos um apelo à sociedade, à mídia e aos artistas: que usem seus espaços e talentos para promover respeito, inclusão e consciência, não para retroalimentar preconceitos históricos", afirma.
A prefeitura de São Lourenço da Mata, que promoveu a festa, também foi procurada, mas disse que não iria se pronunciar sobre o caso.